A vida consiste num certo período de tempo, pelo menos ao que parece para nós pessoalmente. A nossa experiência é que a vida para cada ser vivo tem um fim.
Como pode a vida continuar? A vida está para além de cada ser vivo. Ela dá à luz todos os seres vivos sem ser consumida por esse processo. A vida em si não se perde nas suas criaturas, nem morre com elas.
Quem então está realmente a viver a vida? Em quê que afinal todos os seres vivos estão a participar? A vida é a mais magnífica revelação de uma mente-espiritual inesgotável. Essa mente-espiritual libera constantemente a vida do seu próprio ser e numa abundância que é ilimitada para nós, e mantém essa multiplicidade na existência em infinita criatividade.
E então os seres vivos individuais, o que acontece quando morrem? Eles deixam de ser, ou eles continuam? São ainda transportados por esse movimento criativo? São transportados de outra maneira, ainda dentro do mesmo movimento? Os mortos distinguem-se dos vivos, aqueles que ainda estão presentes connosco como relacionamentos vivos?
Essas pessoas (vivas) estão aqui porque outras estavam aqui antes delas, e porque essas outras ainda aqui estão, com elas e vivendo nelas.
Então, o que acontece connosco quando morremos? Morremos ou vivemos, apenas de forma diferente?
Aqui estamos apenas a olhar para a superfície, do ângulo de nossos corpos. O que acontece com o nosso espírito quando morremos? E a nossa consciência? Pode haver uma transformação do indivíduo em algo omnipenetrante? O que significa no nosso espírito e na nossa consciência entrar na metamorfose? Talvez o nosso espírito tenha começado muito pequeno, e depois tenha crescido, e se desenvolvido. E chegado a um destino que é o seu fim? Este destino é um lugar onde deixa de existir tal como o nosso corpo, e no entanto continua de uma forma diferente, absorvido por algo que sempre existiu, antes da sua vida e além dela? Existe algo que reabsorva o nosso corpo, bem como o nosso espírito, e o leve no seu movimento? Isso pode ser um processo de transformação semelhante à morte do corpo?
Fazemos a distinção entre a vida e a morte. Que outra distinção está ligada a esta para nós?
O processo interno da nossa distinção entre vida e morte é o mesmo que na nossa distinção entre o bem e o mal. Na nossa imaginação, o que é bom pode viver e ficar. O que é mau, porém, deve desaparecer e morrer.
Através desta distinção entre o bem e o mal, interferimos no grande movimento da vida. Com esta distinção procuramos fazer desaparecer algo que lhe pertence em igual medida. Com esta distinção vivemos com a morte, mesmo agora, e morremos enquanto ainda estamos vivos.
O que acontece com a nossa vida quando abandonamos essa distinção?
A nossa vida prossegue para nós. Continua em abundância, qualquer que seja a transformação. Continua criativamente, com todo o resto.
Hellinger, B. (2008). Together in the shadow of God: Thoughts that succed. Hellinger Publications.
(tradução livre de José Miguel Silva)
Vivos e Mortos
Para Bert Hellinger há um ordem essencial para esta temática. A esfera dos vivos e a esfera dos mortos. Estas devem permanecer separadas no serviço à Vida. Enquanto vivos devemos seguir com os vivos e com a Vida. Devemos, ainda assim, levar no coração os mortos, respeitando e reconhecendo a sua pertença. Desta forma os mortos são o suporte dos vivos que caminham para a frente e em esferas separadas.
Existe um preço para os vivos que permanecem na esfera dos mortos negando o seu destino, ou na forma de uma amor cego, seguindo-os. Quem não liberta os mortos permanecerá preso. E quando os entregamos na sua Paz, então sentimos Paz também.
Muitas vezes nas constelações se diz aos mortos com amor e reverência: “Um dia morrerei também. Até lá abençoa-me se eu vivo. Viverei a minha vida por mim e por tudo o que deixaste também. Obrigado”.
A vida implica que se tome o destino tal como ele se mostra. E o destino em dada altura separa os mortos dos vivos, ao preço que custa a todos.