Como funcionam as Constelações Familiares?

As constelações familiares, ou sistémicas, são uma metodologia que permite ao cliente a possibilidade de olhar, ver, sentir, percecionar ou compreender o que está por trás de uma determinada questão, sintoma ou tema.

Parte-se do pressuposto de que uma parte da realidade é experienciada conscientemente e outra por vivências inconscientes. “O que está por trás” tem então o sentido de encontrar a vivência desse inconsciente, dar-lhe voz, nomeá-la e senti-la, integrando-a.

Apesar de inicialmente denominado pelo autor como constelações familiares, esta poderosa ferramenta possibilita abordar qualquer outro tema para além dos familiares: profissional ou organizacional; educacional (escolas) ou emocional (interno).

O princípio de base é a representação, por pessoas (representantes) ou objetos, dos elementos intervenientes em determinada questão, de forma a podermos ver e sentir a dinâmica presente nesse contexto. Permite-se assim criar uma relação com aquilo que estava “dentro” e que não podia ser “visto”. Por exemplo quando a questão é familiar representam-se os familiares do cliente, já quando a questão é profissional representam-se os colaboradores da empresa, e se for emocional representam-se as emoções – já que tudo decorre dentro de um sistema (familiar, organizacional, emocional, etc.).

É uma ferramenta extremamente útil para “olhar” as relações de uma perspetiva mais consciente e ampla. Desse ponto de vista, podemos perceber a peça que faltava ou que causava limitação no tema e assim recuperar a força da reconciliação.

Nas Constelações o cliente não traz uma questão para o facilitador responder ou interpretar. A sua metodologia é totalmente observável e atua “sozinha”, através da própria força da questão e do cliente – denominada de abordagem fenomenológica. Assim, tudo o que acontece é um PURO ENSINAMENTO com origem na própria força do sistema que estamos a observar.

O princípio sistémico de uma constelação aponta para a ideia de que a dificuldade que vivemos atualmente “pertence” ao sistema, foi criada antes de nós, através de um trauma e que atravessa as gerações. A constelação permite este olhar e através dele um alívio e uma reconciliação.

O objectivo maior é ENCONTRAR a FORÇA do SISTEMA, permitindo que actue como uma solução para todas as partes e que fortalece o cliente. Quando nos abrimos para este movimento – que muitas vezes difere da nossa perceção mais superficial – sentimo-nos mais leves e livres.

Não se trata de culpabilizar, nem mesmo de analisar ou interpretar as acções de cada um dos intervenientes na história colocada em representação. Como é um trabalho de ALMA, apenas se observam as dinâmicas e NUNCA se valorizam os diferentes pontos da personalidade.

O cliente é visto como um adulto capaz de encarar a sua realidade e a constelação convida-o a uma visão mais espiritual e de reconciliação possível.

Componente Trangeracional

Neste sentido assumimos a existência de dois níveis de consciência: a consciência individual, que é aquela que nos permite ter uma definição de quem somos enquanto pessoa, e a consciência coletiva ou familiar, através da qual nos definimos enquanto pertencentes a um grupo e que tenta por isso reproduzir os mapas mais relevantes desse todo familiar.

Assim, o facto de estarmos ligados à nossa família, e aos nossos antepassados, e repetindo os mesmos padrões, deixa de ter um carácter místico para se compreender objectivamente que tal acontece pela força do nosso próprio vínculo. Não queremos ser diferentes, nem fazer diferente porque isso seria uma ameaça ao próprio vínculo, mesmo que com isso nos tornemos mais infelizes ou sofredores. Fazêmo-lo inconscientemente para garantir o sentimento de pertença.

Para além disso, o papel fundamental da aprendizagem e que resulta de acontecimentos anteriores a nós. Tão anterior que podemos até nem conhecer a origem.

Imaginemos uma bisavó que ainda jovem mãe perde a sua bebé por esta ter caído pelas escadas enquanto explorava o mundo. Imaginemos agora que esta mulher se torna mãe novamente. Como é o seu olhar para a sua nova bebé enquanto explora o mundo? O que sente esta filha perante o incentivo (ou falta dele) para crescer em segurança? Provavelmente o olhar da mãe será de medo, pânico ou terror. E provavelmente esta criança aprenderá que a vida e a morte estão (demasiado) próximas. Agora imaginemos que esta bebé cresce, que se torna mulher, e que tem a sua primeira bebé. Qual será o seu olhar na hora de apoiar a sua filha a explorar o mundo físico? O mais certo será passar à frente aquilo que aprendeu. Imaginemos então que uma bisneta desta descendência um dia resolve procurar uma Constelação Familiar porque lida com um medo profundo, paralisante e obsessivo. Um medo de morte. Quem é a pessoa morta e importante para este sistema familiar? Qual dos bebés? Apenas um, porém a força desse trauma “viaja” pelo olhar entre mães e filhas e com ele ativam-se sensações, pensamentos e comportamentos.