Quando falamos da criação, referimo-nos ao mundo na sua plenitude, com tudo o que nele existe e nele se move. Ao mesmo tempo, dizemos que esta criação vem de algum lugar de Ordem Superior. Na criação, a sua origem se expande, por assim dizer, para nós.
Isto significa que a criação permanece conectada à sua origem e em uníssono com ela, e como a criação é contínua, esta deve ser recriada a cada momento. A unidade contínua da criação não pode ser concebida de forma mais íntima.
A origem, portanto, não é apenas um evento primordial para nós, onde tudo começou; é uma presença duradoura sempre nova e infinitamente criativa.
O que significa para nós? Significa que tudo o que fazemos só pode ser feito em uníssono com a fonte da qual permanecemos dependentes e, portanto, nunca contra ela ou desalinhada com os nossos recursos. Em tudo permanecemos inseridos num movimento de criação sem fim. Aqui, a ideia de liberdade atinge assim os seus limites.
Então, inseridos nessa eterna expansão criativa, os nossos próprios movimentos também são criativos? Neste sentido, mais do que movidos de fora, mas participando no processo, são de certa forma dotados de liberdade criativa? As nossas experiências sugerem isso.
Neste sentido, há um livre jogo de forças que produz o “desdobramento” criativo de algo novo. Essa interação também abrange a tentativa-erro, o desviar-se, e o voltar a nós mesmos novamente.
Portanto, ser criativo também inclui melhorar as coisas, entender as coisas mais completamente, ser capaz de aplicar algo e desenvolvê-lo ainda mais. Criatividade significa também seguir em frente e progredir. No entanto, isso é verdade apenas dentro dos limites que são estabelecidos para nós, pessoalmente, e para nós como espécie, por exemplo, pelo tempo.
Também sentimos a sensação de criatividade na conexão com a nossa origem. Aqui também se incluem os passos-em-falso e os julgamentos erróneos, umas vezes em concordância e outras contra a própria fonte, em forma de rejeição, e muitas vezes com teimosia e cegueira. Isto separa-nos da fonte? Como se esta fonte também se afastasse e se separasse de nós? Isto é concebível?
Afastar-se e esquecer, com todas as consequências, também são movimentos criativos. Eles são componentes integrais de um movimento criativo mais abrangente que no final resulta em progresso.
Mas também podemos nos entregar com amor a esse movimento criativo e, em harmonia com ele, experimentar um sentido diferente de criatividade. Podemos nos experimentar a nós mesmos como agentes criativos, conscientemente em harmonia. Como? Com gratidão e respeito pela criação como um Todo a vir ao nosso encontro.
Agora, de repente, a nossa experiência de conexão com a fonte é bem diferente. Imediatamente, como se estivesse em harmonia com ela, tanto a nossa separação como a nossa liberdade diminuem. É como se estivéssemos voltando e começando a nos conhecer como seres criativos de maneira profunda e abrangente, e dificilmente movendo-nos por conta própria. Agora sentimos que somos movidos por essa fonte e junto com ela.
Hellinger, B. (2008). Together in the shadow of God: Thoughts that succed. Hellinger Publications.
(tradução livre de José Miguel Silva)